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INCENTIVO À INOVAÇÃO É RADICAL NO GOOGLE, DIZ FUNDADOR DA UDACITY

Sebastian Thrun com blusa azul

Sebastian Thrun diz que a verdadeira revolução é que as pessoas não terão veículo próprio (Foto: Christophe Testi chris@creatives / Christophe Testi/Divulgação)

Aos 49 anos, Sebastian Thrun é uma lenda no Vale do Silício. Pai do carro autômato, ele é um dos maiores especialistas em robótica. Fundador da Google X, que responde pelos projetos mais arrojados da empresa, o professor da Universidade de Stanford criou a Udacity, recém-lançada no Brasil. A Udacity é uma escola de programação que ensina, através da internet, por cursos ou gratuitos ou muito baratos, todos de poucos meses. A maioria dos currículos foi construída em conjunto com empresas como Google e Facebook, que têm falta de funcionários com certas habilidades. Alguns dos cursos não estão no cardápio de nenhuma universidade. Caso, por exemplo, de como programar carros autômatos. Havia 250 vagas: em três dias, foram 4 mil candidatos.

Quando poderemos comprar um carro autômato?
De certa forma, já se pode comprar um hoje, modelo de luxo da Tesla. Eu tenho um. Já houve momentos, na estrada, em que o piloto automático me tirou de acidentes. Os indícios são de que é mais seguro. Apesar disso, já houve uma batida com vítima. Será interessante ver como o governo americano lidará com isso. Carros mais baratos devem chegar ao mercado em cinco anos.

Como eles mudarão o mundo?
A verdadeira revolução é que você não terá mais um carro. Você sai de casa, chama um automóvel pelo celular. Ele vem, você entra, salta no destino e dá adeus. A maioria dos carros está parada 97% do tempo. Temos carros demais. Você vai a uma cidade como São Francisco e vê a quantidade de espaço ocupado por carros estacionados. Imagine se tivéssemos muito menos carros, e eles estivessem continuamente circulando em busca de passageiros. Seria muito mais barato.

Resolve o problema do transporte de massas?
Para grandes distâncias, trens e metrô continuarão mais eficientes. Hoje, se você pensa em um metrô, ele precisa ser muito extenso e ter muitos pontos para que a distância entre sua casa e a estação seja pequena. Com carros autômatos, isso muda. As estações poderão ser mais distantes umas das outras, e as linhas não precisarão ser tão longas. Você pode andar os últimos poucos quilômetros até seu destino num carro que o pega na estação.

Como as cidades vão mudar?
A maioria dos estacionamentos deixará de ser necessária. As ruas ficarão mais limpas, ganharão espaço. Imagine os restaurantes e lojas com dificuldades de atrair clientes por falta de estacionamento. Esse problema desaparece. Pense também que, se transporte se tornar um serviço, precisaremos de apenas 20% dos carros que temos rodando hoje no mundo. Então, talvez a grande empresa do setor seja o Uber. E como mudará a indústria da construção civil se garagens deixarem de ser necessárias? E veículos são o principal negócio das seguradoras. Como ficarão?

Seu plano a longo prazo com a Udacity é ambicioso: dobrar o PIB do mundo. Como?
No mínimo dois terços da população mundial não têm acesso a uma grande universidade. Essas pessoas não são menos inteligentes ou menos ambiciosas. A ideia da Udacity é levar educação para todo mundo. E educação é a chave para prosperidade.

Mas muitas dessas pessoas não têm acesso sequer à educação básica.
O que vai dobrar o PIB do mundo é a democratização do ensino. Nosso foco é capacitar pessoas, de todos os países, para que consigam bons empregos nas novas indústrias. Mas muitas outras empresas estão surgindo com foco em educação básica. A educação vai mudar desde o ensino infantil.

Estamos vivendo um período de aceleração das mudanças?
De todas as tecnologias interessantes que temos para inventar, só 1% já surgiu. Há 300 anos, a maioria das pessoas vivia no campo, e o trabalho era braçal. Aí vieram as máquinas a vapor, que assumiram a labuta pesada. Inventamos profissões novas. Hoje, a maioria trabalha com a mente. Mas muito de nosso cotidiano é repetitivo. Computadores poderão assumir essa parte e o farão mais rápido. Isso vai nos libertar para fazer outras coisas. A maioria das invenções com que convivemos diariamente tem menos de 150 anos. Este processo vai se acelerar.

E vai gerar desemprego.
Sempre houve desemprego. Mas, se você observa os números em países como os Estados Unidos, o desemprego só diminuiu nas últimas décadas. Uma sociedade deve compreender que não pode abandonar aqueles que, por algum motivo, perderam a capacidade de produzir por conta de mudanças. Essa é também uma oportunidade para aprendermos capacidades novas. O tempo em que aprendíamos até a universidade e depois íamos trabalhar acabou. Teremos de continuar aprendendo ao longo da vida.

Governos devem mudar também?
Precisarão ser mais transparentes. A cultura do segredo gera corrupção e esconde processos de baixa eficiência. O governo do futuro, em minha opinião, deve ser digital, enxuto e muito eficiente.

Quais outros avanços tecnológicos em curso o senhor destacaria?
Há empresas trabalhando em carros voadores. Não há motivo para só termos carros autômatos no chão.

Parece divertido.
Quando falei em veículos autômatos pela primeira vez, há dez anos, até gente que conhecia a tecnologia automobilística ria. Hoje, todo mundo leva a sério porque a tecnologia já está pronta. Teremos carros voadores. Também acredito que teremos implantes em nossos cérebros em algum momento. De repente poderemos fazer com que uma criança de 5 anos fique tão boa em xadrez quanto um homem de 20 anos.

A Apple dominou a imaginação acerca da tecnologia nos últimos 15 anos. Mas tem se tornado mais repetitiva. Estamos entrando numa era de domínio da Google?
Eu adoro a Apple. Trabalhei muitos anos na Google em projetos como o carro autômato, colocamos balões na estratosfera para distribuir acesso à internet, desenvolvemos lentes de contato que medem o nível de glicose. O que a Google tem é esse incentivo à inovação radical. Larry Page, meu amigo e cofundador da empresa, acha que nem universidades nem empresas estão fazendo o trabalho necessário de inovação. Então o objetivo dele é botar uma quantidade grande de dinheiro nisso.

E como você descreveria Facebook e Apple, as outras duas forças do Vale?
São todas empresas fenomenais. Tenho imensa admiração por Mark Zuckerberg. Ele pôs sua missão social acima de todo o resto. Seu objetivo é dar poder às pessoas. Já Steve Jobs era capaz de imaginar novas categorias de produtos que gente como nós, do Vale, não levava a sério até ver o que a Apple tinha criado. Não acho que isso tenha deixado de existir. Agora, eles estão trabalhando em um carro.

Você confirma que a Apple está trabalhando em um carro?
Ninguém diz isso oficialmente. Mas é claro que está. Os carros, hoje, são como aquele celular antigo da Motorola, o Razr. Era um ótimo aparelho. Mas não tinha mapas, não tinha browser ou câmera. Imagine o salto que existe entre um Razr e um iPhone. Seu carro, então, terá telas de toque, vai falar com você. Enquanto o carro anda, você dita seus e-mails. Além de esse carro torná-lo mais eficiente, ele é bonito.

Você acha que a Apple vai criar esse carro?
Essa é uma pergunta em aberto. No momento, do ponto de vista da inovação, o melhor carro que existe à venda é o Tesla. É um carro criado no Vale do Silício. É metade computador, metade automóvel. O que fazia a diferença entre carros, antigamente, eram suspensão e motor. O futuro é um carro integrado com seu telefone, com sua agenda. E as empresas tradicionais, em Detroit, ficaram para trás.

 

 

 

Fonte: Pequenas empresas e Grandes Negócios