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Startups e grandes empresas: o que o ratinho pode ensinar ao leão — e vice-versa

Colaboração, ideias

Programa de inovação aberta reúne empresas nascentes, gigantes e investidores: juntos, eles podem dar impulso a novos negócios.

Há cerca de um mês, a Nasa desafiou todo e qualquer interessado em participar da corrida espacial a conceber a interface do aplicativo do smartwatch que austronautas vão usar em missão. A competição foi realizada na plataforma Freelancer, que reúne mais de 16 milhões de profissionais espalhados pelo mundo, gente como eu e você, não ligada à aventura espacial. A ideia da Nasa é se beneficiar do conhecimento de profissionais talentosos dispersos pelo planeta, num formato de crowdsourcing. A iniciativa faz parte do programa de inovação aberta da agência americana, que entende que as invenções necessárias ao avanço da exploração espacial não vão sair só da cabeça de seus funcionários, e que outros talentos dispersos (pessoas e instituições) podem cooperar. “A inovação aberta prega a ampliação do processo de inovação para fontes externas à empresa ou instituição que lidera o trabalho”, diz Bruno Rondani, especialista no assunto e CEO da Wenovate, instituição que promove o conceito e a prática da inovação aberta no Brasil. O termo “inovação aberta” pode soar desconhecido. Mas os frutos gestados sob essa lógica são bem populares, vão da Wikipedia, escrita a milhões de mãos, ao iPhone, que utiliza várias patentes desenvolvidas fora da Apple. “O formato dá agilidade no desenvolvimento de produtos e serviços”, diz Rondani. Há, portanto, ganhos.

 

O formato vai ser posto à prova mais uma vez a partir da semana que vem, quando começa a segunda edição da 100 Open Startups, uma jornada de inovação aberta promovida pela Wenovate. Durante cerca de seis meses, o evento reproduz condições favoráveis à inovação aberta, colocando em contato empresas nascentes, gigantes estabelecidos, como Natura, IBM, 3M e Whirpool, e investidores. A ideia é não apenas colocar todos juntos para conversar, mas, sim, facilitar o desenvolvimento de novas ideias, produtos e negócios.

As startups interessadas podem se inscrever no site da 100 Open Startups até a próxima segunda-feira. Durante um mês, as propostas serão avaliadas por empreendedores e aspirantes a empreendedores dentro da plataforma do programa. A ideia é que os projetos sejam aprimorados a partir do feedback recebidos pelos demais participantes. Um mês depois, cada um dos projetos mais bem avaliados pela comunidade passarão pelo crivo dos especialistas de grandes empresas – o número de companhias deve chegar a uma centena. Dois meses depois, a seleção feita pelas grandes empresas aponta as startups que vão ficar cara a cara com investidores em treze capitais brasileiras. Finalmente, em fevereiro de 2016, as cem melhores participam de um encontro em São Paulo com grandes empresas e investidores: será a hora de fazer negócios.

Bruno Rondani: colaborar para inovar
Bruno Rondani, do Wenovate(Divulgação/VEJA)

Na primeira edição do evento, encerrada em fevereiro, dez das cem startups saíram do encontro final com dinheiro no bolso, um impulso muito bem-vindo para quem tenta colocar o negócio de pé. O objetivo da segunda edição é que ao menos vinte acordos sejam fechados em fevereiro de 2016. Além de capital, as novas empresas receberão orientação das gigantes parceiras do projeto.

Lean Survey, serviço on-line de pesquisa por meio de crowdsourcing, foi uma das finalistas da primeira edição do 100 Open Startups. Levantou 300.000 reais de investimento, feito pela IVP, de Campinas, para desenvolver o produto em escala comercial. O mais interessante é que não havia propriamente um produto quando o time se inscreveu na primeira fase do programa. “Só tínhamos um protótipo, nada comercial”, conta Fernando Salaroli, CEO da Lean Survey. “Durante o processo do 100 Open Startups mostramos nosso projeto para grandes empresas, que disseram o que era preciso mudar para que elas próprias pagassem pela solução. Foi o que aconteceu”, diz.

Do outro lado da mesa do 100 Open Startups, está gente como Sergio Borger, diretor do programa ThinkLab da IBM Brasil, e Francisco Jardim, sócio do fundo SP Ventures. “A inovação aplicada ao mercado é essencial, e boa parte dessa aplicação é feita pelas startups. Por isso, acompanhamos de perto o desenvolvimento dessas empresas e oferecemos a elas suporte e acesso a nossas tecnologias”, diz Borger, da IBM. “É uma forma de transformar a indústria e aumentar o impacto desses negócios na sociedade.”

Impacto é palavra-chave para o executivo da IBM. Ele ressalta o caráter aberto do processo de inovação, mas enfatiza que terão esse poder aqueles empreendimentos que se tornarem sustentáveis a longo prazo. “O jovem que abre a startup só vai conseguir melhorar a sociedade se seu negócio tiver escala. Para isso, ele precisa ter valor, tem que ter receita. Deixamos isso claro para as startups.”

Do ponto de vista do investidor, o contato entre startups e grandes empresas serve como um filtro, pelo qual só passam as melhores – as mais prováveis candidatas a um aporte financeiro. “O crivo das empresas é, para nós, uma forma de validar se a solução proposta pela startup de fato resolve um problema real e se tem gente disposta a pagar por ela”, diz Francisco Jardim, do SP Ventures. “Isso reduz nosso trabalho e aumenta a chance de sucesso.”

O dinheiro é bom, é claro. Mas por trás da proximidade entre empresas estabelecidas e novas está a possibilidade de aprendizado mútuo. “O que as grandes oferecem é escala para que as startups testem e desenvolvam seus produtos. Nesse processo de interação, a startup é capacitada”, diz Rondani. “A startup, por seu lado, serve como laboratório de experimentação para grandes: ao se conectarem aos negócios nascentes, as companhias estabelecidas podem experimentar arriscando menos.” É como na fábula “O Rato e o Leão”, de Esopo, em que, a despeito da diferença de tamanho dos personagens, um ajuda o outro. Moral da história: “Mais vale a gerenosidade e o caráter do que a força.”

 

 

 

Fonte: Veja

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