Por Elisabete Adami Pereira dos Santos, professora da PUC

“Quantos passos devem ser dados para se conseguir cobrir a Avenida Paulista de ponta a ponta?” Essa pergunta estranha foi feita, há alguns anos, a um de nossos ex-alunos mais brilhantes, em uma entrevista para uma vaga de trainee. E ele, não teve dúvidas, disse, prontamente, “3.460 passos”. E ainda completou dizendo que para ele era esse número de passos porque ele calçava 40. Se fosse para alguém que calçasse 35, o número de passos seria 4.000.

Obviamente houve um espanto total na equipe selecionadora, e quiseram saber o motivo dessa certeza. Como esse ex-aluno achou que se falasse a verdade, qual seja, o de saber quantos metros tinha toda a Avenida Paulista, quantos centímetros o seu passo media, e saber fazer uma conta de dividir, iriam achar muito prosaico, então ele…mentiu. Disse que havia contado.

Foi o suficiente para acharem que ele era “muito esquisito” e o alijaram do resto do processo seletivo, que deve ter tido outras tantas coisas estranhas.

Essa empresa é de um setor tradicional da economia, e, portanto, em sua área de recursos humanos, seus profissionais eram, e ainda são, conservadores. A opção por questões desse tipo aconteceu porque estava “na moda”. Moda essa inaugurada pelas empresas ponto.com, cujo motivo para entrevistas com questões excêntricas faz todo o sentido.

Quem nunca ouviu falar do “jeito Google de recrutar”? “Há uma escada e você está autorizado a subir um degrau de cada vez, quantas maneiras há para chegar ao enésimo degrau?”. Ou “use uma linguagem de computador para descrever um frango”. Questões como essas têm razões de sobra para serem aplicadas a quem quer disputar uma vaga no Google, na Apple, ou na Microsoft, mas não tem motivo para serem utilizadas em um banco ou uma montadora.

As empresas do setor de tecnologia sabem a razão de estarem fazendo essas perguntas e, mais do que isso, têm um gabarito que vai do conhecimento lógico, de algoritmos, ao bom senso. Quem viu o filme Os Estagiários, que teve a consultoria técnica da empresa, percebeu isso…

Muitos dos programas de trainee, principalmente alguns dos mais disputados, ainda têm utilizado essa prática e têm, equivocadamente, afastado excelentes candidatos.

Outras etapas dos processos seletivos para trainee, no próximo capítulo…

Fonte: Estadão